No tempo das colónias portuguesas em áfrica, os trabalhadores negros das fazendas abasteciam-se durante a semana na Cantina ou Armazém-Geral (a designação variava de acordo com a sua dimensão), estabelecimentos que, coincidência das coincidências, pertenciam igualmente ao(s) dono(s) da fazenda.
Consumiam arroz, farinha, peixe sêco, carne de salmoura, pano riscado, sabão, sandálias, pilhas para o rádio e entre outras bugigangas, remendos para os pneus da "ginga".
Na hora de receber o salário (vulgo "semanada") tudo isto lhes era descontado na Folha de Pagamento, quando a havia.
Moral da história: minutos depois de ter pago aos trabalhadores o patrão já tinha todo o dinheiro de volta.
Cá pela Europa Ludwing von Mises escreve: <numa sociedade capitalista, a riqueza só pode adquirir-se e conservar-se mediante uma atitude que corresponda às exigências dos consumidores. Assim, a riqueza de prósperos comerciantes é sempre o resultado de um plebiscito dos consumidores e, uma vez adquirida, a riqueza só pode conservar-se se for utilizada da forma que os consumidores considerem mais benéfica para eles >.
Já não temos o império colonial, mas temos o da globalização neoliberal, o da concentração de riqueza, e o império dos hipermercados onde a diferença entre os seus trabalhadores e a dos africanos das fazendas é meramente geográfica. Cá como lá, recebem o vencimento mensal e gastam-no no mesmo estabelecimento onde o ganharam.
E onde é que está o problema? questionará quem ler este texto.
O problema é que tendo recebido, por exemplo, quinhentos euros e gasto esses mesmos quinhentos euros em compras , leva para casa mercadoria que, a quem lha vendeu, terá custado muito menos, ou seja ao seu próprio patrão, que deste modo arrecada não só a diferença entre o preço de custo e o da venda, mas também a riqueza gerada pelo esforço que ele recompensou com dinheiro que já está de novo na sua posse. Se isto não é a mercantilização da vida e concentração de riqueza é o quê?
Anda cá anda!
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